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Especial: V de Vingança


Por Alina Oliveira

Em meio a Copa das Confederações e com protestos estourando nas maiores capitais do país, nada mais relevante que fazer um editorial falando um pouco disso e, claro, relembrando o filme “símbolo” das revoltas: V de Vingança.

O filme foi lançado em 2006 com direção de James McTeigue (dirigiu Ninja Assassin e O Corvo), roteiro e produção dos talentosos irmãos Wachowskis (Matrix), e é a adaptação da HQ homônima escrita por Alan Moore, o que por si só já vale assistir.

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Quando olhamos imagens dos protestos no Brasil sempre vemos alguém com uma máscara de Guy Fawkes (Londres 1570-1606), que de maneira nenhuma é um personagem fictício e é usado como símbolo em V de Vingança e, mais tarde pelo grupo de hackers denominados Anonymous. Fawkes viveu em York, Inglaterra e foi o idealizador da Conspiração da Pólvora, que pretendia matar o rei Jaime I e todo o parlamento durante uma reunião, alem de ser o estopim de um levante católico na Inglaterra protestante. A conspiração foi descoberta e Fawkes foi enforcado por traição e tentativa de assassinato, até hoje, na Inglaterra o dia 5 de novembro é lembrado como Noite das Fogueiras, em homenagem a ele.

O filme retrata uma Inglaterra meio que futurista, que depois de uma guerra civil que devastou os Estados Unidos, implanta um governo autoritarista onde tudo e todos são controlados pelo Chanceler Adam Sutler (John Hurt). É nesse pano de fundo que conhecemos Evey (Natalie Portman), e já no começo ela é atacada e ameaçada de ser estuprada, mas V (Hugo Weaving), que usa uma máscara de Guy Fawkes para esconder sua identidade, aparece e a salva, leva-a para cima de uma cobertura para assistirem a explosão de um importante prédio do governo. Assim chamando a atenção do estado e da população a possibilidade de liberdade (ou seria anarquia?) para essas pessoas que a tanto tempo são alienadas pelo regime implantado.

O filme é carregado de uma forte ideologia contra a corrupção governamental, que nós, como brasileiros, sabemos bem o que significa. Mesmo que o filme seja radical nesse ponto pelo interesse de contar uma história é possível fazer as relações com o nosso contexto. Somos deixados de lado em prol de um crescimento econômico e mantidos sobre controle por políticas públicas regadas de populismo, que prima por medidas paliativas e de curto prazo, deixando de lado o investimento necessária em educação e saúde que são as bases necessárias para que nosso país saia da estagnação e que a população possa ter alguma qualidade de vida.
O filme mostra uma ditadura forte simbolizada na figura de Adam Sutler, e no Brasil vivemos sob o lado ruim do capitalismo, somos o elo mais fraco no ambiente econômico mundial e sofremos com os altos índices de pobreza e de concentração de renda. De maneira diferente do filme, com certeza, fomos levados a nos manifestar contra um governo que não tem o povo como instrumento para subir ao poder, somente o levando em consideração em ano de eleição. Não importa o partido no poder, se é esquerda ou direita, o povo nunca é lembrado como se deve.

 
"Por trás dessa máscara existem ideias, e ideias são a prova de balas."

No filme, o povo vive em inércia, aceitando o que o governo lhes dita e sendo controlados rigorosamente e punidos quando as regras são desobedecidas, e em meio a isso tudo surge V, a figura que irá representar o movimento contra a ditadura em vigência. Ele faz com que as pessoas se revoltem contra o sistema e que se movimentem em busca de seus direitos. No Brasil, em uma comparação bem torta, tem a imagem dos protestos em São Paulo, de um povo que se cansou de pagar por serviços porcos de transporte e resolveu protestar, sendo violentamente reprimida pela PM, essa repressão funcionou como um símbolo para que no resto do país todos abrissem os olhos pros absurdos que são cometidos pelo poder publico, pelo tamanho da censura que vivemos, que é mascarada pela mídia. A repressão causou uma reação em cadeia, muito bem representada pela simbólica cena dos dominós próximo ao clímax do filme. Muitas cidades brasileiras se uniram a São Paulo, nos dias seguintes a primeira manifestação e assim o movimento ganhou força no resto do país.

Voltando ao filme em si, ele é lindamente dirigido, cada cena é importante para o enredo e a dedicação com que cada história foi contada já conquista qualquer telespectador. Há cenas tão carregadas de emoção e importância narrativa que não da para desgrudar os olhos. Nos apegamos a V mesmo ele sendo frio do mesmo jeito que Evey se apaixona por ele. A cena dos dominós caindo me deixou sem palavras, e a do final, quando (SPOILER) a população todo está vestida de V e passa pelo exército para ver a explosão do prédio do parlamento (FIM DO SPOILER) é absolutamente impecável.

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Talvez a única coisa que chegou a me incomodar o bastante para ser um defeito no filme é o sotaque de Natalie Portman, no me entendam mal, eu sou muito fã dela, uma das melhores atrizes da atualidade, fez um puta trabalho em Cisne Negro, mas ele pareceu tão forçadinho nesse filme. Porém, isso é algo mínimo em comparação a genialidade do filme, e a atuação dela é perfeita nele. Hugo Weaving consegue, somente com sua voz, arrepiar qualquer um, é inacreditável como não há expressão em momento algum e mesmo assim a sua voz conseguir passar toda a emoção, ou a falta dela para a cena.

"God is in the rain"
 "God is in the rain"

Talvez o filme tenha uma apologia a anarquia que não seja o melhor para os ânimos de algumas pessoas, sei que para mim não foi, já que sou completamente contra anarquia. Mas é preciso ter discernimento para enxergar o que se pode absorver de um filme e o que não, o que faz do filme algo muito mais instigante.

A narrativa é digna de Alan Moore e é aquela cena final, quando o Inspetor Finch pergunta para Evey quem era V, a resposta não podia ser um final melhor e mais memorável para o filme. Há tantos diálogos incríveis e simbólicos para a sociedade de um modo geral. Vale muito a pena ver, é quase um crime nunca ter assistido. Não existem palavras que expressem o quanto eu recomendo a vocês, ainda mas no momento político em que vivemos ele é absolutamente relevante.



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