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Crítica - Álbum de Família

Com um elenco louvável, Álbum de Família adapta a aclamada peça "August: Osage County", no qual o cenário se resume à praticamente o casarão em que reside o casal Beverly e Violet Weston (Sam Shepard e Meryl Streep, respectivamente). O filme inicia-se com um pequeno monólogo de Beverly explicitando em poucas palavras o quanto o seu casamento com Violet havia chegado ao limite do suportável. Depois de tantos infelizes anos juntos, só restaram os vícios: ela por pílulas, ele por bebidas. E o de ambos um pelo outro. Sem forças de saírem desse ciclo apenas sobrevivem dentro daquela enorme casa.

Violet foi diagnosticada com câncer de boca, além de já ter tido problemas com remédios anti-depressivos, vive uma vida absolutamente dopada, falando palavras amargas e dando patadas em todos ao seu redor, não que houvesse muitos ao seu redor, pois a solidão do casal é algo palpável a medida que vamos conhecendo a história. Tudo começa com um súbito desaparecimento de Beverly, que após contratar uma empregada indígena para cuidar da esposa enferma, simplesmente some da casa deixando Violet sozinha com a nova criada, assim os parentes vêm para tentar resolver a solução em família. 


Primeiramente, chega Ivy (Julianne Nicholson), a filha mais próxima, a única remanescente que permaneceu morando próximo aos pais e não se mudou para cidade grande, ficou presa, sem constituir família ou cuidar de si própria - logicamente, a que eles menos davam valor. Logo depois conhecemos a irmã de Violet, Mattie Fae (Margo Martindale) e seu marido Charles (Chris Cooper), os esterótipos da tia gorda que reclama de tudo e adora falar o que não deve e o tio gente boa que faz piada sem graça. Então, vem a figura de Barbara (Julia Roberts, esplêndida), a filha preferida que foi embora para casar e ser feliz bem longe dos pais, e claro, sua vida é um fracasso, o marido Bill (Ewan McGreggor, sensacional como sempre) a trocou por uma mulher muitos anos mais nova, e a filha Jean (Abgail Breslin) é a típica garota revoltada de 14 anos que só faz besteira e acha que a única pessoa no mundo que vale alguns segundos de atenção é ela mesma. 

Logo em seguida a chegada de todos esses personagens, logo percebemos que a família sofre de severos problemas de convivência, apesar de tentarem manter um certo nível de sociabilidade. Eles não se odeiam, é bem claro isso, apenas não suportam ficar perto um do outro, algo se rompeu ali e a estrutura que unia aquelas pessoas está totalmente ruída, qualquer laço já não os prende mais, é tanta amargura que é quase insuportável colocá-los todos em uma mesma sala. 

Enfim, todos chegam na casa acreditando que Beverly está desaparecido, que fugiu - como já fez muitas outras vezes - por estar farto das brigas constantes com Violet e precisar de um tempo apenas seu. Porém logo seu corpo é achado no lago que ele costumava pescar, e supõe-se suicídio. Não fica explícito, mas é bem óbvio. Dessa forma, a família precisa estender sua estadia na casa para finalidade de realizar o velório do patriarca. Então são introduzidos mais personagens para completar a família: Karen (Juliette Lewis), a terceira filha, uma pessoa completamente alheia à realidade adulta, do tipo que acha que o mundo é colorido e quando a situação explode, como uma criança, ela foge e se esconde. Com ela, vem seu noivo (o mais recente de muitos), Steve (Dermot Mulroney), um homem de meia idade que acredita ainda ser um garotão e age como tal, e por fim, Little Charles (Benedict Cumberbatch), o filho dos tios Mattie Fae e Charlie, um homem com o coração bom, que viveu a vida inteira sob forte desaprovação da mãe e complacência e piedade do pai, por isso tornou-se alguém inseguro e atrapalhado.

O principal ponto do filme é mostrar como a família estar retalhada, um álbum completo mostrando de pedaço em pedaço o quanto a instituição familiar está falida. Não existe um membro sequer sem algum segredo ou problema, ou que tente fugir da realidade através de algum subterfúgio. Violet e suas pílulas, Bev e sua bebida, Charlie e sua maconha, Barb levando o marido da qual está separada para não ter que contar a todos que ela também falhou, que foi embora por aquele homem e ele a trocou por uma garota bem mais nova, Jean fumando aos 14 anos e entorpecida de qualquer sentimento, fria como uma pedra de gelo, Ivy e Little Charles vivendo um romance entre primos porque ambos simplesmente não tinham habilidade social suficiente ou oportunidade de conviver com outras pessoas e Karen aceitando qualquer patife que aparecesse na sua vida pois temia com todas as forças a solidão, todos tentando sobreviver a essa falha tentativa de ser feliz.

Unir tantas pessoas perdidas e desesperadas em uma mesa de jantar, com Meryl Streep sentada na ponta, recém viúva e tomando umas 20 pílulas por dia é o que pode se chamar de SHOW. A cena do jantar é, com certeza, a cena mais visceral, impressionante e arrasadora do filme. De um a um, Violet vai atacando cada membro da família, e a medida que vai fazendo isso, o espectador vai conhecendo a "função" de cada um ali naquela mesa: a filha submissa (Ivy), a filha em busca de aprovação e aceitação por pura insegurança (Karen) e a filha que não teme mais nada porque já perdeu mesmo tudo que tinha (Barb), talvez por ser mais forte que qualquer um ali, e sabemos que não é nada fácil conviver com alguém que dificilmente se tem a capacidade de ferir mesmo que a pessoa te ame, por ela ser tão auto-suficiente e orgulhosa que toda a dor do mundo simplesmente bate e ela permanece de pé.

Daí o filme segue com diversos e múltiplos "segredos" sendo desenterrados, segredos estes que na verdade era de conhecimento geral, apenas não se tocava no assunto. Vivia lá, como um elefante branco na sala. Então se entende o porquê daquela família viver em constante amargura um com o outro, cada um tem sua própria cruz, seu próprio veneno guardado: traições, mentiras, fingimentos. Essa é a base familiar que os mantém. Unidos no sangue e completamente desunidos na vida. À medida que tudo vai se desenrolando e sendo escancarado, cada membro vai seguindo um rumo diferente, partindo para não voltar tão cedo - até a próxima crise, pelo menos. No fim, ficam Barb e Violet para um último diálogo fenomenal em que a filha descobre até que ponto a podridão e o fracasso rodeiam aquela família. Então, resolve partir deixando a mãe sozinha com a criada indígena que ela tanto desprezava. Dançando e variando um suposto retorno do marido, que jamais ocorreria.

Esse filme realmente me surpreendeu, não pelas atuações majestosas das rainhas Meryl Streep e Julia Roberts, porque isso já era de se esperar. O restante do elenco também não deixou nada a desejar, foram todos excelentes. Mas a surpresa foi a qualidade do roteiro. Eu sou uma eterna apaixonada por histórias que envolvem problemas de família, que envolvem relacionamentos problemáticos entre pais e filhos, como "Precisamos Falar Sobre o Kevin", "Deus da Carnificina" e o livro maravilhoso de J.K. Rowling que retrata esses relacionamentos muito bem, "Morte Súbita". Agora "Álbum de Família" entra para minha lista de um dos melhores filmes sobre o tema.


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