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Crítica | Birdman ou (A Inesperada Virtude da Ignorância)


O longa narra a história de Riggan Thomson (Michael Keaton, impecável), um ator que fez muito sucesso com um único personagem: Birdman, caindo no esquecimento da indústria Hollywoodiana após recusar fazer a terceira sequência da franquia.

Amargurando a falta de notoriedade, Riggan busca no teatro sua renovação, seu antigo prestigio, porém após anos de frustrações, seus problemas já estavam muito além de cobiça por reconhecimento, cada aspecto de sua vida estava quebrado; casamento fracassado, relacionamento conturbado com a filha Sam (Emma Stone) que acaba de voltar da rehab, e, principalmente, as controvérsias com ele mesmo. Todos esses problemas são consubstanciados por uma perpétua insatisfação do personagem, que já se tornou inerente a ele, tornando-o cada vez mais ausente do mundo real e entorpecido pela busca de algo que foi perdido e jamais recuperado.

O filme se desenvolve com a tentativa de Riggan juntar seus cacos, em todos os pontos, arriscar uma reaproximação com a filha, um perdão com a ex-esposa, e, por fim, a reconquista da fama, que, no final das contas, é o seu eterno santo graal.
Nesse contexto de busca pelo reconhecimento, alguns personagens orbitam em torno do protagonista, como é o caso se seu produtor Jake (Zach Galifianakis, vivendo seu personagem mais diferenciado, mas ainda dentro da comédia), Mike Shinner (Edward Norton, sensacional, porém o personagem “desaparece” no meio do filme) e Lesley (Naomi Watts, personagem sem qualquer relevância, até agora estou me perguntando a razão de sua existência).

Com todos os personagens devidamente apresentados acho importante destacar que a única atuação que realmente se sobressai é do Michael Keaton, não que o resto esteja ruim, Emma Stone e Edward Norton estão incríveis, mas os personagens não exigiram grande coisa, acho que foram muito superestimados, talvez a Emma Stone esteja sendo tão aclamada por uma ou duas cenas que ela realmente chamou atenção, mais nada. Já o Edward Norton está praticamente se interpretando, ele é um monstro da atuação, um ator excelente, mas com um personagem que não exigiu muito dele, já demonstrou seu talento de maneira muito mais competente em outros filmes, como As Duas Faces de um Crime (1996), A Outra História Americana (1998) e Clube da Luta (1999).

Nesse frenesi de se reafirmar dentro do implacável show business, Thomson guarda dentro de si um outro eu, aquele que nunca deixou de ser o Birdman, personagem o qual é sempre lembrado por onde passa, portanto, o filme, numa caminhada meio fantástica meio irônica, traz um personagem dilacerado ao meio, um ator que ao ser imortalizado como um único personagem, o assumiu dentro de si, como uma espécie de segunda personalidade, esta que se sente poderosa, implacável, capaz de qualquer coisa, em contramão ao simples Riggan Thomson, um ator fracassado de um personagem só e que vive numa constante luta pela volta de seus tempos áureos, enlouquecido para se ver livre daquela voz que insiste em assombrar seus pensamentos.

Não é um filme de fácil interpretação, e muito menos de única, existem várias conclusões que se pode chegar com o que de fato está acontecendo na mente de Thomson, tanto que a direção graceja disso, a câmera caminha como se fosse um espião, andando pelos corredores e dobrando nos lugares para ouvir as conversas, chegando no meio de algumas, ou na saída de alguém por alguma porta, Iñárritu nos faz sentir como bisbilhoteiros do dia-a-dia daquelas pessoas, o que deixa o filme muito mais intimista, deixando claro que a mensagem deste é muito pessoal, principalmente a cena final que faz o espectador ficar pensando por horas o que de fato acabou de assistir, qual era o objetivo, e se perguntando se chegou a conclusão certa, mas a sacada genial de tudo isso é que NÃO EXISTE CERTO E ERRADO nesse filme, ele é seu, faça o que quiser com ele, pense o que quiser, porque ele é completamente aberto para suas próprias definições.

Birdman ou (A Inesperada Virtude da Ignorância) é basicamente a história de um homem que está cansado, MUITO cansado, de sua eterna procura por uma satisfação inexistente, vivendo uma vida que já não o preenche mais, e ele se acostuma em viver desse modo: sempre tentando, sempre querendo, e já não sabe (e nem quer) mais viver de outra maneira, o que é demonstrado em um clímax maravilhosamente complexo e pessoal.
Uma sacada genial é como o título do filme simplesmente resume os dois fragmentos da vida de Thomson, algo que realmente apenas um roteiro genial poderia criar, apenas mais um elemento que faz do longa tão profundo e sutil, pois são nas pequenas coisas que a história vai fazendo sentido e se construindo.

Por fim, a única coisa que faltou na obra foi mais desenvolvimento em enredos paralelos, que vieram e foram como nada, completamente inúteis, como é o caso do romance engatado pelos personagens de Emma Stone e Edward Norton, ou o beijo lésbico de Naomi Watts e Merritt Weaver, histórias começadas e não terminadas e sem nenhum objetivo que acrescentasse qualquer coisa.

Essa estranha, complexa, agridoce e sarcástica dramédia é, sem dúvida, uma das obras mais ousadas que eu já vi, destrinchando a máquina impiedosa que é Hollywood no próprio quintal, e colocando Michael Keaton para viver um ator que não fez nada de significativo por anos após viver um super-herói que lhe estigmatizou (qualquer semelhança não é mera coincidência). Enfim, um filme que, com certeza, será um clássico daqueles que é uma delícia ficar discutindo por horas e horas todo o seu significado e simbolismo. Um banquete para os cinéfilos!





nanomag

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