“Harry Potter e a Ordem da Fênix” foi um dos livros mais marcantes da saga pelo fato de que foi nele que ocorreu a primeira perda realmente significativa de um dos personagens mais queridos e ninguém esperava que algo assim fosse ocorrer em uma série “juvenil” como Harry Potter. Todos acreditavam, até então, que a saga seguiria rumos completamente diferentes, então de repente nos deparamos com um livro em que nosso protagonista, nosso Harry, sempre tão compreensivo e passivo está à beira de um ataque de nervos, atacando todos ao seu redor com mau humor, grosserias e hostilidade. E sua ligação com o Lorde das Trevas cada vez mais intensa, o que só o deixa ainda mais confuso.
Esse livro é sem dúvida um divisor de águas, Harry está crescendo, e carregando em suas costas um peso que poucos com o dobro de sua idade seriam capazes de suportar. Alguns leitores não conseguem compreender as atitudes de Harry nessa fase de sua vida, e até pegaram raiva dele devido ao modo como ele tratou algumas pessoas que só lhe deram apoio. A questão é: quem consegue ser perfeito o tempo todo? Quem nunca comete erros? Isso, tendo uma vida normal e tranquila. Agora imagina com uma vida difícil como a dele?
Harry tem 15 anos, uma época da vida que os adolescentes em geral já tendem a sentirem-se um tanto solitários, abandonados, mesmo sem motivos para isso. Harry tem todos os motivos do mundo, seus melhores amigos somem durante o verão e seu maior protetor, seu conselheiro, sua fortaleza, Dumbledore, está distante e o ignorando sem nenhum motivo aparente. Somado a tudo isso, ele acabou de presenciar a morte de frente e a ressurreição daquele que quer matá-lo desde que ele se entende por gente, e sua ligação inexplicável com esse ser terrível está crescendo cada dia mais. Além de está sendo chamado de mentiroso, louco e clemente por atenção por todo o Mundo Bruxo. E, de repente, surge a figura de Dolores Umbrigde para piorar o que não poderia ficar pior.
A dor de ser humilhado como o Harry foi é algo que é preciso ter sensibilidade para entender, ele tinha apenas 15 anos, quase uma criança. Eu admiro muito como a J.K. Rowling conseguiu colocar a reação do Harry nesse quinto livro de uma maneira tão perfeita em relação a tudo que estava acontecendo. Harry não é perfeito, ele nem pretende ser. Na verdade, ele não pretende nada. Ele está perdido, dentro de uma trama que construíram independente da vontade dele, ele foi escolhido pelo azar e vai ter que lhe dar com isso ou morrer.
O livro traz um peso dramático que até então a série ainda não havia atingido, tudo está mais sombrio, Voldemort estava vivo novamente e a qualquer momento explodiria a guerra que já estava acontecendo por debaixo dos panos, ninguém estava realmente seguro.
Visto este potencial todo, a adaptação cinematográfica poderia ter sido o melhor de toda a saga, porém, infelizmente não foi o que ocorreu. Um livro de 703 páginas (o maior da série), foi resumido em um filme de 2h18min (o menor da série, tirando Relíquias da Morte - pt. II que é metade de um livro), com uma edição completamente mal feita, como se tivessem gravado o filme corretamente, mas na edição final decidiram sair tirando cenas aleatoriamente, deixando de fora passagens fundamentais e modificando outras que eram necessárias para que a história fizesse algum sentido.
O filme é corrido e mal contado, as falas parecem que foram cortadas, como se os personagens dissessem uma fala de um diálogo enorme do livro tirada completamente de contexto, apenas para dizer que tirou aquilo do livro.
Só para citar alguns dos problemas do filme e que prejudicou na continuidade, para começar, não citou que Rony e Hermione se tornaram monitores da Grifinória, aí no momento que o Simas confronta o Harry dizendo que quase não volta para Hogwarts por culpa dele, o Rony o defende e faz o Simas se calar, por que? Por sua grande presença? Por sua estatura ameaçadora? No filme, fica completamente sem lógica, pois não se sabe que o Rony tem poderes de monitor, e que por isso o Simas se calou.
Também não podemos esquecer do desprezo ao Dobby, que teria sido muito mais significativo para aqueles que não leram livro se soubessem o quanto ele ajudou o Harry durantes os anos, e na Ordem não foi diferente, ele que mostrou a Sala Precisa para a AD, e não o Neville como mostrado no filme. E a cena da serpente atacando o Sr. Weasley, completamente corrida, em um segundo o Harry sonha, no outro segundo, o Harry está na Diretoria com os outros Weasley (sem reação alguma, a não ser uma cara de sono/enterro. Cadê o Fred e o Jorge SÉRIOS exigindo saber do pai deles? Cadê a Gina com cara de choro? Cadê o Rony pálido preocupado com seu pai? Cadê os Weasley que nós conhecemos?), e no outro segundo já é Natal e o Sr. Wesley já saiu do St. Mungus e passa bem, obrigado!
Mas tudo isso seria até perdoável, se não tivessem feito as memórias do Snape naquele nível de descuido. Uma cena TÃO importante para futuros acontecimentos. Imaginem que lindo seria se em Relíquias da Morte, nós pudéssemos ver os reais fatos daquele dia? Snape e Lily adolescentes conversando! Teria sido maravilhoso! Mas não, mas uma cena essencial que nunca veremos.
Outro momento imperdoável foi a facilidade com que a AD entrou no Departamento de Mistérios. Pelas Barbas de Merlim! O nome do lugar é “Departamento de Mistérios”!! O mínimo que poderiam ter feito era pelo menos uma dificuldade para entrar! O que custava haver as portas giratórias? 3 minutos a mais de filme? Entrar no Beco Diagonal foi mais difícil do que entrar no Departamento de Mistérios, achar a Plataforma ¾ foi mais difícil que entrar no Departamento de Mistérios! Sabe por que? Por puro desmazelo!
E o pior é que chegaram a gravar a cena dos cérebros, que teria sido incrível de assistir, mas decidiram não colocar na edição final, por alguma razão que eu desconheço. E mesmo que tenha alguma razão, tipo, para o filme ficar menor e ter mais sessões por dia e assim mais lucro, para mim isso não é justificativa. E a capa do livro é exatamente a cena das portas giratórias, ou seja, retiraram uma cena tão importante que estava representando o livro como um todo.
E uma das cenas mais maravilhosas e emocionantes foi reduzida a basicamente duas falas, que é a conversa/desabafo/discussão de Harry e Dumbledore na diretoria após a morte de Sirius. É quando nós temos a ciência do quanto Dumbledore é apegado a Harry, o quanto ele preza pelo garoto, por alguma razão, sua felicidade vem em primeiro lugar que qualquer coisa e ele nos ensina mais uma lição: de como até mesmo os mais sábios como ele podem padecer pelo simples fato de amar.
Como o próprio Dumbledore deixa claro, ele via os anos passando e que chegava a hora do Harry ficar sabendo seu verdadeiro destino, porém lhe doía deixa-lo ciente, pois isso tiraria sua paz, e ele não queria que Harry sofresse ainda mais, ainda que isso custasse a vida de outras pessoas, de inocentes, ainda que isso levasse à consequências irreparáveis, para ele o bem estar de Harry era o que vinha em primeiro lugar. O “egoísmo altruísta” dos tolos que amam, às vezes a razão se esvai em prol de proteger a pessoa amada.
“Eu me preocupava demais com você. Me preocupava mais com a sua felicidade do que com o seu conhecimento da verdade, mais com sua paz de espírito do que com o meu plano, mais com a sua vida do que com as vidas que seriam perdidas se meu plano fracassasse. Agi exatamente como Voldemort espera que nós, tolos, que amamos, façamos. Tenho defesa? Desafio qualquer um que tenha observado você como eu – e eu o tenho observado mais atentamente do que você pode ter imaginado – a não querer lhe poupar mais dor do que você já tem sofrido. Que me importavam as inúmeras pessoas e bichos sem nome nem rosto sacrificados em um futuro difuso, se no aqui e agora você estava vivo, bem e feliz? Nunca sonhei que seria responsável por alguém assim.” - Alvo Dumbledore
O discurso de Dumbledore é lindo, e Harry aos poucos vai se acalmando, depois de um surto (que também foi excluído do filme), onde ele começa a jogar todas as coisas de Dumbledore na parede implorando por explicação. Mas ao mesmo tempo querendo desafogar aquela dor, aquele vazio que a morte de Sirius causou. É um momento tão crucial, tão maduro, emocional e excruciante na série que simplesmente não poderia ter ficado de fora. Mas ficou.
É quando ficamos sabendo da profecia em toda sua plenitude, no livro apenas, porque no filme ela se quebra no Ministério e Harry a ouve por completo. Mas originalmente quem conta para ele o que estava escrito é a pessoa que a ouviu pela primeira vez; Alvo Dumbledore. A profecia foi realizada pela Professora de Adivinhação, que na época estava tentando ganhar o emprego quando acabou por realizar a profecia que definiu a vida de uma criança para sempre.
Aquele com o poder de vencer o Lorde das Trevas se aproxima… nascido dos que o desafiaram três vezes, nascido ao terminar o sétimo mês… e o Lorde das Trevas o marcará como seu igual, mas ele terá um poder que o Lorde das Trevas desconhece… e um dos dois deverá morrer na mão do outro, pois nenhum poderá viver enquanto o outro sobreviver… aquele com o poder de vencer o Lorde das Trevas nascerá quando o sétimo mês terminar…– Sibila Trelawney
É necessário também ressaltar os momentos que o filme acertou, claro, já que nem tudo são espinhos. Porque, por incrível que pareça, eles existem. A Imelda Staunton como Umbrigde foi maravilhosa, não poderia ter sido outra. Mas é claro que em questões de elenco não podemos reclamar NUNCA de Harry Potter, se tem algo de perfeito ali, é isso.
As cenas das reuniões da AD são bastante boas também, principalmente a primeira, bem parecidas com as do livro. E também a foto da OdF antiga, ficou incrível como mostra as duas gerações de combatentes contra as forças do Lorde das Trevas, acho lindo como as fotos ficaram parecidas, meio que mostrando uma nova geração tentando lutar aquela mesma antiga causa.
- Ordem da Fênix (original)
- Armada de Dumbledore
O filme conseguiu também mostrar muito bem o desenvolver da relação de amizade entre Sirius e Harry, com umas falas bem marcantes entre eles e abraços sinceros.
Nós todos temos a luz e as trevas dentro de nós. O que importa são as escolhas que fazemos. Elas que definem quem somos realmente. |
E também não podemos esquecer da incrível batalha final no Ministério entre Alvo Dumbledore e o Lorde das Trevas. O momento que Harry é possuído por Voldemort é realmente tocante, nós vemos o sofrimento que ele está sentido, com aquela maldade impregnada dentro de seu corpo, completamente impotente. Então ele lembra daquilo que é mais importante, aquilo que Voldemort não entende e nunca vai entender.
"Você é o fraco aqui... nunca terá amor ou amizade. E eu tenho pena de você!"
A conclusão de a Ordem da Fênix tem um gosto que o final está finalmente perto, os tempos difíceis previstos por Hagrid finalmente chegaram e é tempo de escolher entre o que é certo o que é fácil. Vemos Harry chegar ao fim do livro/filme mais duro, amargo, com cicatrizes muito mais profundas do que aquela que ele carrega na testa. Um garoto que ganhou e perdeu muito em tão, tão pouco tempo.
"E quanto mais você se importa, mais você tem a perder."
O fim do livro é Harry voltando para a casa dos Dusley e os Weasley, Hermione e Lupin indo leva-lo e “ameaçando” os Dusley para deixarem Harry em paz e não perturbá-lo durante o verão. Mas tanto no livro quanto no filme o que fica principalmente é a transformação de Harry. Ele chega finalmente a uma conclusão, aquela que ele carrega até o fim, que o dar forças para continuar em seu destino sombrio.
É nesse momento de sua trajetória que Harry finalmente percebe com toda a clareza, com olhos mais esclarecidos depois de passar por tanta dor, a grande diferença entre ele e Aquele-Que-Não-Deve-Ser-Nomeado. Aquilo que é sua fraqueza na concepção de Voldemort, é na verdade sua maior força, seu porto seguro, o que faz dele O Eleito, o menino que pode derrotar o Lorde das Trevas: o amor. Não um poder ou uma magia especial como ele imaginara, mas apenas o amor. Porque é o medo de perder as pessoas amadas que dar a Harry a força para lutar, para nunca baixar a guarda, para seguir adiante mesmo quando tudo parece perdido.
Mesmo que tenhamos uma batalha pela frente, nós temos uma coisa que Voldemort não tem. Algo pelo qual vale a pena lutar.” – Harry Potter
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