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Crítica - Álbum de Família
Crítica - Álbum de Família
By João 2/04/2014 01:48:00 PM

Violet foi diagnosticada com câncer de boca, além de já ter tido problemas com remédios anti-depressivos, vive uma vida absolutamente dopada, falando palavras amargas e dando patadas em todos ao seu redor, não que houvesse muitos ao seu redor, pois a solidão do casal é algo palpável a medida que vamos conhecendo a história. Tudo começa com um súbito desaparecimento de Beverly, que após contratar uma empregada indígena para cuidar da esposa enferma, simplesmente some da casa deixando Violet sozinha com a nova criada, assim os parentes vêm para tentar resolver a solução em família.
Primeiramente, chega Ivy (Julianne Nicholson), a filha mais próxima, a única remanescente que permaneceu morando próximo aos pais e não se mudou para cidade grande, ficou presa, sem constituir família ou cuidar de si própria - logicamente, a que eles menos davam valor. Logo depois conhecemos a irmã de Violet, Mattie Fae (Margo Martindale) e seu marido Charles (Chris Cooper), os esterótipos da tia gorda que reclama de tudo e adora falar o que não deve e o tio gente boa que faz piada sem graça. Então, vem a figura de Barbara (Julia Roberts, esplêndida), a filha preferida que foi embora para casar e ser feliz bem longe dos pais, e claro, sua vida é um fracasso, o marido Bill (Ewan McGreggor, sensacional como sempre) a trocou por uma mulher muitos anos mais nova, e a filha Jean (Abgail Breslin) é a típica garota revoltada de 14 anos que só faz besteira e acha que a única pessoa no mundo que vale alguns segundos de atenção é ela mesma.
Logo em seguida a chegada de todos esses personagens, logo percebemos que a família sofre de severos problemas de convivência, apesar de tentarem manter um certo nível de sociabilidade. Eles não se odeiam, é bem claro isso, apenas não suportam ficar perto um do outro, algo se rompeu ali e a estrutura que unia aquelas pessoas está totalmente ruída, qualquer laço já não os prende mais, é tanta amargura que é quase insuportável colocá-los todos em uma mesma sala.
Enfim, todos chegam na casa acreditando que Beverly está desaparecido, que fugiu - como já fez muitas outras vezes - por estar farto das brigas constantes com Violet e precisar de um tempo apenas seu. Porém logo seu corpo é achado no lago que ele costumava pescar, e supõe-se suicídio. Não fica explícito, mas é bem óbvio. Dessa forma, a família precisa estender sua estadia na casa para finalidade de realizar o velório do patriarca. Então são introduzidos mais personagens para completar a família: Karen (Juliette Lewis), a terceira filha, uma pessoa completamente alheia à realidade adulta, do tipo que acha que o mundo é colorido e quando a situação explode, como uma criança, ela foge e se esconde. Com ela, vem seu noivo (o mais recente de muitos), Steve (Dermot Mulroney), um homem de meia idade que acredita ainda ser um garotão e age como tal, e por fim, Little Charles (Benedict Cumberbatch), o filho dos tios Mattie Fae e Charlie, um homem com o coração bom, que viveu a vida inteira sob forte desaprovação da mãe e complacência e piedade do pai, por isso tornou-se alguém inseguro e atrapalhado.
O principal ponto do filme é mostrar como a família estar retalhada, um álbum completo mostrando de pedaço em pedaço o quanto a instituição familiar está falida. Não existe um membro sequer sem algum segredo ou problema, ou que tente fugir da realidade através de algum subterfúgio. Violet e suas pílulas, Bev e sua bebida, Charlie e sua maconha, Barb levando o marido da qual está separada para não ter que contar a todos que ela também falhou, que foi embora por aquele homem e ele a trocou por uma garota bem mais nova, Jean fumando aos 14 anos e entorpecida de qualquer sentimento, fria como uma pedra de gelo, Ivy e Little Charles vivendo um romance entre primos porque ambos simplesmente não tinham habilidade social suficiente ou oportunidade de conviver com outras pessoas e Karen aceitando qualquer patife que aparecesse na sua vida pois temia com todas as forças a solidão, todos tentando sobreviver a essa falha tentativa de ser feliz.
Unir tantas pessoas perdidas e desesperadas em uma mesa de jantar, com Meryl Streep sentada na ponta, recém viúva e tomando umas 20 pílulas por dia é o que pode se chamar de SHOW. A cena do jantar é, com certeza, a cena mais visceral, impressionante e arrasadora do filme. De um a um, Violet vai atacando cada membro da família, e a medida que vai fazendo isso, o espectador vai conhecendo a "função" de cada um ali naquela mesa: a filha submissa (Ivy), a filha em busca de aprovação e aceitação por pura insegurança (Karen) e a filha que não teme mais nada porque já perdeu mesmo tudo que tinha (Barb), talvez por ser mais forte que qualquer um ali, e sabemos que não é nada fácil conviver com alguém que dificilmente se tem a capacidade de ferir mesmo que a pessoa te ame, por ela ser tão auto-suficiente e orgulhosa que toda a dor do mundo simplesmente bate e ela permanece de pé.
Daí o filme segue com diversos e múltiplos "segredos" sendo desenterrados, segredos estes que na verdade era de conhecimento geral, apenas não se tocava no assunto. Vivia lá, como um elefante branco na sala. Então se entende o porquê daquela família viver em constante amargura um com o outro, cada um tem sua própria cruz, seu próprio veneno guardado: traições, mentiras, fingimentos. Essa é a base familiar que os mantém. Unidos no sangue e completamente desunidos na vida. À medida que tudo vai se desenrolando e sendo escancarado, cada membro vai seguindo um rumo diferente, partindo para não voltar tão cedo - até a próxima crise, pelo menos. No fim, ficam Barb e Violet para um último diálogo fenomenal em que a filha descobre até que ponto a podridão e o fracasso rodeiam aquela família. Então, resolve partir deixando a mãe sozinha com a criada indígena que ela tanto desprezava. Dançando e variando um suposto retorno do marido, que jamais ocorreria.
Esse filme realmente me surpreendeu, não pelas atuações majestosas das rainhas Meryl Streep e Julia Roberts, porque isso já era de se esperar. O restante do elenco também não deixou nada a desejar, foram todos excelentes. Mas a surpresa foi a qualidade do roteiro. Eu sou uma eterna apaixonada por histórias que envolvem problemas de família, que envolvem relacionamentos problemáticos entre pais e filhos, como "Precisamos Falar Sobre o Kevin", "Deus da Carnificina" e o livro maravilhoso de J.K. Rowling que retrata esses relacionamentos muito bem, "Morte Súbita". Agora "Álbum de Família" entra para minha lista de um dos melhores filmes sobre o tema.
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