
Cenas incríveis, sequencias lindas de diálogo, direção e, principalmente, atuação, fazem deste, um filme para ser admirado.
Primeira coisa que preciso ressaltar nesse texto é a incrível forma como Woody Allen contou a história de Jasmine. Incrível, também, é como somos levemente e deliciosamente levados pela história que consegue conduzir o nível certo de humor sem parecer minimamente forçado a fazer isso.
É um humor comum, que você se identifica, que você vê algo realmente verdadeiro ali, junto com atuações não forçadas, não exageradas, mas sim peculiarmente apáticas, em personagens clichês mas extremamente aprofundados em um mar de simplicidade. Você com certeza vai lembrar de alguém que conhece vendo algum personagem em Blue Jasmine.
A responsável por boa parte (enorme parte) da qualidade do filme é, sem dúvidas, a incrível, inegavelmente espetacular, inacreditável (e mais montes de adjetivos qualitativos que vocês quiserem dar) de Cate Blanchett. Essa mulher simplesmente destruiu qualquer outra atuação das candidatas desse ano no Oscar.
Se encaixou perfeitamente no papel de socialite recém-falida, frustrada e louca. Sim, louca. Jasmine tem um sério problema depressivo, devido, acredito, a sua vida fútil e sua eterna, e, em alguns momentos, irritante indiferença em relação a tudo e todos. Ela é aquela típica mulher bilionária clichê, que anda de queixo para cima, bolsa Louis Vuitton, saltos dourados, e vestido colado. Loura, louríssima, beirando o amarelo.
Assim, deparando-se com sua nova vida nada glamourosa, ela é forçada a aceitar e ver que outros tipos de vidas existem, fora do mundinho pequeno ao qual ela adorava se isolar. Mas apesar de enxergar, de se deixar levar por esse lado menos rico do mundo, mesmo que minimamente, ela se nega de todas as formas a descer do seu pedestal. Ela se nega a aceitar as circunstâncias a que a vida lhe levou. Ela está sempre disposta a humilhar qualquer um pelo simples fato de outrora ter sido rica. Está sempre lá com o tom arrogante, cortando tudo e todos, se negando a aceitar qualquer tipo de relação a não ser a que ela realmente precise, no caso, a irmã, que é uma das grandes injustiçadas na história, mas muito bem aproveitada.

É uma história sobre redenção e caráter, digamos assim. Mostra sem hipocrisia a vida pacata e chata da alta sociedade de Nova York, que se encaixa a de qualquer outra cidade, na qual os integrantes esbanjam dinheiro, mas por dentro, sofrem com o vácuo. Como as pessoas são transformadas por essa superficialidade.
Woody conduz o filme entre flashbacks mesclados com paralelos da atualidade. Há inúmeras cenas em que a personagem é mostrada caqueticamente devastada, desolada, desiludida, acabada atualmente, e no outro segundo, glamourosa, orgulhosa, maravilhosa, enfiada em suas roupas de marcas, em sua casa de campo, como fora outrora. Foi um dos pontos altos do longa, e que me fez perceber que ele está em um nível mais alto que outros do diretor. Esses paralelos traçados, essa maneira de mostrar o quanto o mundo pode dar voltas.
Aliás, se há falhas no roteiro passaram despercebidas por mim.Os cortes são espetaculares, a trilha sonora toca no momento correto, começa e para no momento certo.
Enfim, é um filme lindo de se assistir. Consegue entreter (o que não é típico de Allen), e ser extremamente apático.