Mais mortes para nós, mais consciência pesada para Carrie.
Eu disse na review da semana passada que a calmaria dessa temporada estava começando a incomodar. Não retiro, estava mesmo. Mas acontece que, depois de três anos, eu já deveria ter começado a me acostumar com as explosões no roteiro de Homeland. Já deveria ter começado a prever quando algo forte iria acontecer, quando os corajosos roteiristas usariam dessa maravilhosa virtude, e usufruiriam da atuação maravilhosa que eles tem na mão, e dos poderes da TV Americana, tão liberal.
Acontece que a genialidade dos roteiristas simplesmente não nos deixam prever nada. Depois de três anos, eles continuam puxando o tapete da sua audiência, e quando tudo parece estar indo por água abaixo, dá-lhe plot twist. Aconteceu na terceira temporada, sobre circunstâncias diferentes, e aconteceu agora: o anti-clímax calmo levaria ao acontecimento mais trágico, que todo mundo insiste em dizer que não vai acontecer, pois "os roteiristas não tem estômago para fazer", mas eles sempre fazem: morte.
E os caminhos para essa morte, para que ela fosse sentida não só por nós, meros telespectadores (os mais beneficiados com o nervosismo gostoso de acompanhar o drama frenético de Homeland), mas sentida por Carrie também, foram extremamente bem elaborados. Ao ver o resultado como um todo, desde a construção do relacionamento entre Carrie e Aayan lá na premiere, e nesse episódio extremamente simbólico desde o seu título até sua cena final, você tem a deliciosa sensação de estar acompanhando uma série que tremeu nas bases durante um período, mas que está se reerguendo aos poucos, com calma, construindo um roteiro meticulosamente estruturado, e que está se encaminhando para a sua melhor reta final, e sua desacreditada melhor época.
E nesse episódio não teve somente a morte impactante de Aayan como plot twist. O primeiro deles, foi feito por Carrie! Não consegui prever que a invasão na casa dela foi um plano. Quando deram um soco nela, pensei "puta merda, ferrou!". Mas ah, o nervosismo logo se foi quando ela estava dentro da caminhonete e perguntando se realmente precisava do soco. Foi até, levemente, cômico. Bem pensado, claro, e resultou em uma ótima sequência.
Enquanto tudo isso acontecia, Saul nem sequer apareceu. O sequestro dele não era de conhecimento da equipe, óbvio, mas estava começando a desesperar o fato de ninguém ter percebido a falta dele. E mais uma vez, não foi Carrie quem percebeu. Mais uma vez, Quinn roubou a cena... Creio que isso seja o maior propósito dos escritores nessa temporada: Mostrar o quanto a mente de Carrie, mesmo sã, está definhando-a, fazendo com que, até mesmo no que ela era boa (perceber quando algo está para acontecer e pressentir o peso climático de um ato inimigo eminente), esteja sendo comprometido pela cegueira mental que os remédios a causam.
E isso ficou evidente quando, observando pelos seus Drones o assassinato frio e propositalmente gravado de Aayan, ela autorizou um ataque à Haqqani mesmo com Saul estando lá, seu mentor, seu quase-pai. Isso foi, evidentemente, para mostrar que Carrie, infelizmente, contra a sua vontade, se apegou à Aayan, e ele a ela, fazendo com que a revolta que ela sentiu pela sua perda, tenha sido maior do que o amor que ela sente por Saul. O que pesou na mente dela foi a inocência do garoto colocada fatalmente à prova, ato este que ela foi a principal causadora. Desculpem a infeliz comparação, que é feita até no título do episódio (De Aayan, para Brody, e de volta novamente) mas o fato é que, assim como Brody, Carrie também mandou Aayan para a morte. E isso é demais para ela aguentar, mesmo não tendo metade do vínculo com o garoto, que ela tinha com Brody.
Talvez seja até pior. A redenção de Brody só tinha uma saída, uma escapatória. Ele já tinha sofrido o suficiente para uma vida inteira. A morte foi sua salvação, foi onde ele encontrou paz. Ele morreu querendo morrer.
No caso de Aayan, ele era um garoto evidentemente inocente, que foi tendo sua vida pouco a pouco destruída, primeiro quando ficou órfão não só de seus pais, mas de sua família inteira, tendo como único membro da família vivo, um tio terrorista. Depois, foi enganado e recebeu falsas promessas de uma vida melhor fora do pesadelo em que estava vivendo. E o mais trágico: morreu segundos depois de saber toda a verdade, por uma bala atirada pelo tio que ele confiava, que estava protegendo até agora, e que salvou a vida. Agora imaginem, antes de começarem a julgar novamente o plot insano de Carrie, carregar para o resto da vida a culpa de ter jogado esse garoto aos leões. De tê-lo usado como isca o tempo inteiro, e no fim, não ter dado em nada: o terrorista fugiu, e o inocente foi morto.
Finalizando, mas nunca é demais ressaltar: as vezes não consigo acreditar na potência de Claire Danes. Simplesmente não consigo achar adjetivos para dá-la. Ela é magnífica. Estupenda. De um talento performático raríssimo na televisão. Desculpem, mas acho difícil outra pessoa, mesmo antes dela, e mais difícil ainda no futuro, fazer o que ela faz, especialmente nesse episódio. O desespero de Carrie foi palpável. A luta interna contra a culpa, contra a incompreensão de sua mente tão conturbada, é tão bem expressa pela atriz que imaginar que Claire Danes é uma pessoa normal fora das câmeras de Homeland parece uma ideia utópica. É difícil imaginar Claire Danes não sendo Carrie, e creio que isso já a faz merecedora de todos os prestígios que uma profissão como a dela pode ter, desde os mais altos prêmios, ao mais vasto reconhecimento.
É, Homeland pegou fogo. Foi um episódio incrível. Aayan está morto para a alegria de muitos, inclusive a minha. Agora basta torcer para que Saul saia ileso dessa, porque até agora, os estragos que já foram causados em Carrie são incontáveis. Ela, sem dúvida alguma, não saíra ilesa dessa temporada.
E me desculpem, mas faço parte da opinião de que deveriam ter matado Haqqani, mesmo com Saul estando ali. Na vida real (se é esse o objetivo, deixar parecido com uma operação real), Saul seria uma consequência, e a ameaça estaria morta. Para suscitar isso, vai um comentário que vi na internet: "Saul iria querer que ela atirasse, né? Ele está preso em um território inimigo, sem os óculos, e nas mãos de um terrorista procurado."
E me desculpem, mas faço parte da opinião de que deveriam ter matado Haqqani, mesmo com Saul estando ali. Na vida real (se é esse o objetivo, deixar parecido com uma operação real), Saul seria uma consequência, e a ameaça estaria morta. Para suscitar isso, vai um comentário que vi na internet: "Saul iria querer que ela atirasse, né? Ele está preso em um território inimigo, sem os óculos, e nas mãos de um terrorista procurado."
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Próximo episódio: 4x07 "Redux", assista a prévia:
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