Título: O livro do cemitério
Título Original: The Graveyard Book
Autor: Neil Gaiman
Editora: Rocco
Ano: 2010
Páginas: 336
Sinopse: Enquanto seus pais e irmã são impiedosamente assassinados por um misterioso homem chamado Jack, um bebê consegue escapar de seu berço e se aventurar pelo mundo. Uma série de coincidências, aliada a uma grande dose de sorte, salva o pequeno de ter um destino tão trágico quanto o de sua família. ________
Tendo lido apenas um livro do Neil Gaiman antes desse, não posso dizer que sei exatamente o estilo dele; mas é sabido, que o autor é conhecido por sua habilidade em criar hstórias de uma forma simples, e ao mesmo tempo brilhante - Seja nos livros, ou na TV (
Doctor Who \o/). E isso resume perfeitamente o que é
O Livro do Cemitério.
Com um começo brutal, o livro narra a história de Ninguém Owens (ou Nin, como é apelidado), um garoto que escapa das mãos de um assassino, ainda bebê, e vai parar em um antigo cemitério abandonado. Lá, ele é encontrado e adotado pelos habitantes locais, ganhando assim alguns privilégios e proteção do lugar. O seu assassino, no entanto, continua a sua procura do lado de fora, o que acaba forçando o menino a viver isolado do resto do mundo - pelo menos até que ele tenha idade o suficiente para se proteger sozinho.
E é a partir daqui que a jornada de Nin pelo amadurecimento se inicia.
Logo de cara, já somos introduzidos a esse universo que agora ele pertence. Conhecemos seu novo lar e também todos seres que vivem ali - o que aliás, são muitos! Afinal, não é só de fantasmas que se consiste um cemitério. Ah, e pode se dizer que Gaiman trabalhou de forma impecável nisso, pois ao usar elementos sobrenaturais conhecidos - e outros nem tanto -, ele criou sua própria mitologia dentro desse "submundo", deixando uma nova descoberta a cada página. É interessante ver que existe mais do que túmulos e mausoléus naquele pequeno canto do mundo.
Aos poucos também acompanhamos o crescimento e as experiências do garoto, e esse é outro diferencial do livro. Cada capítulo é uma história diferente e um momento especifico da vida dele. E embora algumas das aventuras possam parecer aleatórias, todas elas apresentam uma peça chave para a conclusão da trama. Além disso, TODAS, sem exceção, conseguem prender a atenção do leitor, que sempre vai querer mais e mais.

Há um capítulo em especial (chamado A Dança Macabra), que já vale pelo livro inteiro, e é escrito de uma forma tão leve, e tão significativa, que a leitura fica tão rápida que você nem percebe.As descrições também tem um certo peso nisso tudo. A cidade dos Ghouls, por exemplo, é tão vívida, que é impossível não criar uma imagem fixa na sua cabeça. As ilustrações também são um show a parte, e dão um toque a mais em certos momentos.
Os personagens são outro ponto alto do livro. Todos muito bem construídos, e cada um com sua história de vida ou morte; Sejam os fantasmas do cemitério, ou as outras criaturas. É difícil não criar afeição (ou aversão) imediata a alguns deles, mas entre todos eles, Liza Hempstock é a que chama mais atenção. Suas habilidades e sua "instabilidade" são os principais motivos, assim como a sua relação de amor e ódio com Nin, que é a mais divertida daqui.
Silas, o zelador do cemitério, também merece uma menção. Sempre misterioso, nunca é revelado o que ele realmente é. O que é legal, pois acaba deixando a existência do personagem mais, digamos... interessante - sendo que a resposta para isso fica bastante evidente no decorrer do livro.
Como Liza, sua relação com Nin também é algo legal de se acompanhar, e é com toda certeza a mais profunda da história. E para completar, o personagem ainda guarda alguns segredos, e aparenta saber mais da história de garoto do que aparenta, o que torna a leitura ainda mais intrigante.
O ritmo que o livro tem talvez possa ser considerado inconstante para alguns, já que na sua reta final, a história acelera de forma bem repentina, e a narrativa muda um pouco, pegando assim o leitor de surpresa. Só que isso só serve pra mostrar que algo a mais esta acontecendo, e de forma alguma atrapalha no desenvolvimento da trama. Pelo contrário, só te deixa mais curioso.
O clímax não decepciona, e apesar de se esperar um fechamento um pouco diferente (pelo menos eu esperava), o final também não. E já adianto: o último capítulo é bastante emotivo e, de uma forma sútil, ele ainda nos passa uma mensagem tocante sobre o amadurecimento - com um "quê" de Nárnia, devo dizer.
A única decepção, talvez seja o fato que a mitologia criada aqui seja tão rica, que um livro só não é o bastante para explorá-la. Então não se surpreenda com a vontade de relê-lo assim que terminar (nessas horas que choramos por uma continuação). Só não vá esperando algo mirabolante e/ou épico dele, pois como eu disse no inicio, o livro te ganha pela sua simplicidade - O que também não tira toda a genialidade que ele possui.
Para aqueles que nunca leram Neil Gaiman, diria que esse é um ótimo livro pra começar.

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"Você é sempre você, isso não muda, mas estamos sempre mudando e não há nada que se possa fazer a respeito disso."
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