
Sinopse: O que assusta o Doctor? Que horrores espreitam debaixo de sua cama? Fantasmas do passado e do futuro inundam as vidas do Doctor e de Clara; um assustado zelador em um orfanato, o ultimo homem de pé no universo, e um garoto que não quer ir para o exército.
Imagine que você nunca esteve sozinho. Imagine que aquele arrepio que você sente na sua nuca seja, na verdade, a respiração de alguém que te observa. Agora, por que essa ideia de uma presença invisível é tão assustadora? Como aquilo que não vimos pode nos afetar tanto?
A verdade é que os responsáveis por tornarem esse conceito tão ameaçador, somos nós mesmos. Afinal, quando tentamos dar rosto aquilo que não vimos, acabamos criando algo pior do que realmente é, e muitas vezes nos levando a crer em algo que na verdade nunca esteve ali. Graças a nossa mente, o desconhecido sempre vai ser o mais temido, se tornando um dos nossos medos mais primordiais. E sendo uma das especialidades do Moffat usar esse tipo de medo para contar histórias, ele pega esses elementos e entrega não só o melhor episódio da temporada até agora - talvez um dos melhores da série - como também usa a temática para trabalhar no desenvolvimento do Doctor, trazendo novamente um lado mais humano para o Time Lord.
Aliás, isso é algo que vale ressaltar. Listen é mais um estudo da personagem que qualquer outra coisa. E entra na cabeça do Doctor de uma forma nunca feita antes na série.
O episódio, no entanto, não se trata apenas sobre ele, e também acompanha Clara em seu desastroso encontro com Danny Pink.
As cenas dos dois no restaurante servem quase como um alívio pra toda tensão que acompanha a história, e por mais que voltemos a elas bem no meio do episódio, não há uma quebra de ritmo como deveria acontecer. O que é outra coisa que foi muito bem trabalhada aqui.
O timing dos acontecimentos é ótimo, e o clima - que é estabelecido logo de cara em uma bela sequência de abertura - mais ainda. Quero dizer, a coisa toda consegue te passar uma paranoia, consegue transmitir uma sensação de que há algo além do que a gente vê. A cena em que o Doctor rouba o café do zelador prova isso, pois o que parecia obra de um poltergeist, acabou sendo apenas uma piadinha.
E se já é assim em momentos mais "leves", dá pra ter uma ideia de como é quando a intenção é realmente assustar, e a cena que se segue é, com toda a certeza, uma das mais aterrorizante de toda a série. Isso acontece quando se dá uma "forma" física ao Ser desconhecido da trama, e o melhor de tudo é que a sua natureza fica no ar, sendo oferecida a opção de que aquilo, na verdade, podia ser apenas uma criança pregando uma peça em outra, deixando o público tirar suas próprias conclusões. Eu acredito que sim, existia um monstro.
Outro destaque dessa cena é a forma como Clara lida com o pequeno Rupert (ou Danny), mostrando seu jeito com crianças e seu lado maternal que conhecemos lá na 7ª temporada, e perto do 12th, isso só entra em contraste. Mas apesar de ser mais seco, o Doctor também tem seu momento, encorajando Rupert com seu discurso de que "o medo é um superpoder" - sendo essa a primeira interação de Capaldi com uma criança na série, soando tão natural quanto Matt Smith.
Aqui nós ainda descobrimos a inspiração do garoto em ir para o exército, e como Clara teve influência nisso ao usar o 'Dan, o soldado' para acalmá-lo. É interessante notar o foco que a câmera dá no Doctor nessa cena, mais uma vez fazendo um paralelo com a imagem dele.
A terceira parte do episódio é o mais carregado, e a obsessão do Time Lord por essa "criatura que vive para se esconder" em que ele esta à procura, se mostra mais evidente. Devido a essa busca, ele e Clara acabam parando no "fim dos tempos", e da mesma forma que eles encontraram Rupert/Danny, eles encontram Orson Pink.
Moffat brinca mais uma vez com a ideia de deixar as coisas no ar aqui, e fica subentendido que Orson tem algum parentesco com Clara. O que é legal, porque ao mesmo tempo que isso pode ser uma prévia do destino dela, também pode ser outra coisa, já que o fato não é confirmado.
O que torna essa sequencia mais impressionante é a atuação de Peter Capaldi, porque você acredita naquilo, porque ele acredita.
Quando ele grita com a Clara, e diz que ela não irá mais viajar com ele caso não entre na Tardis, você também percebe que não é uma ameça vaga. E isso é a melhor coisa do 12th, ele passa um sentimento que nenhum outro Doctor da série nova conseguiu passar, que é o de imprevisibilidade. Não dá pra dizer o que ele fará em seguida. Ao recitar o poema, você ainda consegue ver o olhar de "loucura" no seu rosto, e quando ele abre a porta... medo.
Em fato, o que guia o episódio é a seguinte pergunta: Do que o Doctor tem medo? E o que consagra Listen é a forma que Steven Moffat escolhe lidar com isso, fechando a história da forma mais significativa possível.
A cena da cabana é facilmente a mais bem escritas da série, sendo ao mesmo tempo chocante e emocionante. É nesse momento que descobrimos a fonte de todo a paranoia do Doctor e como ele está sujeito a sentimentos tão humanos.
O monólogo final de Clara além de tocante é quase um tributo do roteirista pra série, superando algo que eu nunca achei que seria possível, que é a sequência da "promessa" em The Day of the Doctor. Na verdade ele funciona quase que como um epílogo do especial de 50 anos. Afinal, o crucial dessa cena é que ela é direcionada para o garoto que não queria se juntar ao exército, mas que devido as circunstancias, acabaria se tornando o maior soldado que já existiu e que mais tarde, teria que enfrentar o dilema de destruir a própria raça e salvar o resto do mundo.
Não dá pra negar que a ideia de reutilizar a cabana que o War Doctor decidiu usar o Moment foi brilhante.
Ser a Clara ali também foi outra coisa que tornou essa cena tão especial (pelo menos pra mim). Alguns podem dizer que por ela estar muito envolvida com o passado dele, o foco da série passa pra ela, mas ao meu ver, isso só dá mais ênfase a imagem do Time Lord. Veja bem, nós já observamos que Clara sempre tenta trazer o melhor do Doctor a tona, e mesmo sabendo que ele tem falhas, pra ela, ele é um herói! Usar as próprias palavras dele para confortá-lo só reforçou isso, pois o discurso é baseado na forma que ela o vê, ela diz que tudo vai ficar bem, porque ela o conhece e sabe que vai.
Isso é basicamente aquilo que foi tratado em Robot of Sherwood: O Doctor inspira as pessoas a serem heróis em nome dele, e ao consolar a criança, foi isso que Clara foi aqui. Ela não foi uma influencia pra ele, ela foi um apoio.
Mas enfim... a construção do episódio é tão boa que se pode tirar várias coisas dela, e ainda oferece mais de um modo de se interpretar os eventos. Então pra resumir: Eis aqui uma das melhores histórias da série.
Obs: Pra quem diz que é impossível ir para Gallifrey no passado: A série clássica já estabeleceu que isso pode sim acontecer. A time-lock existe apenas para conter a Guerra do Tempo e os eventos que levaram a ela, algo que sempre ficou claro. Do contrário, o Valeyard - que surgiu depois da 12ª encarnação do Doctor - não teria conseguido ir para a época do 6th. Ou nenhum episódio em que vários Doctors se encontram em Gallifrey, seria canônico (o que não é o caso).
Obs 2: Muita gente também ficou confusa com o papo da academia, mas é aquilo mesmo. Time Lord não é a espécie, é um título. Só é um quem se forma na Academia de Gallifrey. Eles são a "elite" do planeta.
E se já é assim em momentos mais "leves", dá pra ter uma ideia de como é quando a intenção é realmente assustar, e a cena que se segue é, com toda a certeza, uma das mais aterrorizante de toda a série. Isso acontece quando se dá uma "forma" física ao Ser desconhecido da trama, e o melhor de tudo é que a sua natureza fica no ar, sendo oferecida a opção de que aquilo, na verdade, podia ser apenas uma criança pregando uma peça em outra, deixando o público tirar suas próprias conclusões. Outro destaque dessa cena é a forma como Clara lida com o pequeno Rupert (ou Danny), mostrando seu jeito com crianças e seu lado maternal que conhecemos lá na 7ª temporada, e perto do 12th, isso só entra em contraste. Mas apesar de ser mais seco, o Doctor também tem seu momento, encorajando Rupert com seu discurso de que "o medo é um superpoder" - sendo essa a primeira interação de Capaldi com uma criança na série, soando tão natural quanto Matt Smith.
Aqui nós ainda descobrimos a inspiração do garoto em ir para o exército, e como Clara teve influência nisso ao usar o 'Dan, o soldado' para acalmá-lo. É interessante notar o foco que a câmera dá no Doctor nessa cena, mais uma vez fazendo um paralelo com a imagem dele.
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Moffat brinca mais uma vez com a ideia de deixar as coisas no ar aqui, e fica subentendido que Orson tem algum parentesco com Clara. O que é legal, porque ao mesmo tempo que isso pode ser uma prévia do destino dela, também pode ser outra coisa, já que o fato não é confirmado.
What’s that in the mirror or the corner of your eye?
What’s that footstep following, but never passing by?
What’s that footstep following, but never passing by?
As cenas na nave do Orson são bem claustrofóbicas, e o que mais chama atenção é o silêncio inquietante durante elas, que só aumenta o sentimento de angustia e solidão. Esse silêncio, no entanto, logo é quebrado, dando lugar a vários barulhos causados fora da nave. O Doctor ainda insiste em achar uma explicação racional para cada um deles, mas a paranoia vence e no instante seguinte, ele já afirma que há alguém batendo na porta.
O que torna essa sequencia mais impressionante é a atuação de Peter Capaldi, porque você acredita naquilo, porque ele acredita.Quando ele grita com a Clara, e diz que ela não irá mais viajar com ele caso não entre na Tardis, você também percebe que não é uma ameça vaga. E isso é a melhor coisa do 12th, ele passa um sentimento que nenhum outro Doctor da série nova conseguiu passar, que é o de imprevisibilidade. Não dá pra dizer o que ele fará em seguida. Ao recitar o poema, você ainda consegue ver o olhar de "loucura" no seu rosto, e quando ele abre a porta... medo.
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Em fato, o que guia o episódio é a seguinte pergunta: Do que o Doctor tem medo? E o que consagra Listen é a forma que Steven Moffat escolhe lidar com isso, fechando a história da forma mais significativa possível.
A cena da cabana é facilmente a mais bem escritas da série, sendo ao mesmo tempo chocante e emocionante. É nesse momento que descobrimos a fonte de todo a paranoia do Doctor e como ele está sujeito a sentimentos tão humanos.
O monólogo final de Clara além de tocante é quase um tributo do roteirista pra série, superando algo que eu nunca achei que seria possível, que é a sequência da "promessa" em The Day of the Doctor. Na verdade ele funciona quase que como um epílogo do especial de 50 anos. Afinal, o crucial dessa cena é que ela é direcionada para o garoto que não queria se juntar ao exército, mas que devido as circunstancias, acabaria se tornando o maior soldado que já existiu e que mais tarde, teria que enfrentar o dilema de destruir a própria raça e salvar o resto do mundo.
Não dá pra negar que a ideia de reutilizar a cabana que o War Doctor decidiu usar o Moment foi brilhante.
Ser a Clara ali também foi outra coisa que tornou essa cena tão especial (pelo menos pra mim). Alguns podem dizer que por ela estar muito envolvida com o passado dele, o foco da série passa pra ela, mas ao meu ver, isso só dá mais ênfase a imagem do Time Lord. Veja bem, nós já observamos que Clara sempre tenta trazer o melhor do Doctor a tona, e mesmo sabendo que ele tem falhas, pra ela, ele é um herói! Usar as próprias palavras dele para confortá-lo só reforçou isso, pois o discurso é baseado na forma que ela o vê, ela diz que tudo vai ficar bem, porque ela o conhece e sabe que vai.
Isso é basicamente aquilo que foi tratado em Robot of Sherwood: O Doctor inspira as pessoas a serem heróis em nome dele, e ao consolar a criança, foi isso que Clara foi aqui. Ela não foi uma influencia pra ele, ela foi um apoio.
Mas enfim... a construção do episódio é tão boa que se pode tirar várias coisas dela, e ainda oferece mais de um modo de se interpretar os eventos. Então pra resumir: Eis aqui uma das melhores histórias da série.
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Obs: Pra quem diz que é impossível ir para Gallifrey no passado: A série clássica já estabeleceu que isso pode sim acontecer. A time-lock existe apenas para conter a Guerra do Tempo e os eventos que levaram a ela, algo que sempre ficou claro. Do contrário, o Valeyard - que surgiu depois da 12ª encarnação do Doctor - não teria conseguido ir para a época do 6th. Ou nenhum episódio em que vários Doctors se encontram em Gallifrey, seria canônico (o que não é o caso).
Obs 2: Muita gente também ficou confusa com o papo da academia, mas é aquilo mesmo. Time Lord não é a espécie, é um título. Só é um quem se forma na Academia de Gallifrey. Eles são a "elite" do planeta.

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