Contrariando as inúmeras expectativas que o público tinha, de que Godzilla seria mais um blockbuster que segue a linha dos outros com o mesmo tema (onde tudo o que se vê e ouve na tela é pancadaria, destruição, e barulho), o reboot do rei dos monstros se diferencia em não lidar com o que seria o principal item do filme o tempo inteiro [a criatura], e opta por não esfregar na cara do espectador o temido monstro, mas guardá-o, e passa a transformá-lo em mais um personagem na trama toda, oculto, se mostrando por partes, e lentamente, ao longo do filme. Sendo assim, para a montagem do roteiro, somos introduzidos na vida de uma família, e vamos acompanhá-la o tempo inteiro, desenvolvendo apatia por ela, enquanto o filme com a ausência do monstro, constrói um clima, um ritual, uma preparação para o "finalmente", para o vislumbramento, depois de muito mistério, do grandioso Godzilla.
E o resultado, garanto, vale a pena.
Já de cara, nos vemos assistindo a uma abertura fenomenal, com flashbacks, mostrando experimentos do governo que deram errado, e foram ocultos da sociedade por alguma razão grandiosa, que se fosse revelada poderia acarretar em um caos mundial iminente. O filme já te pega daí, nos três primeiros minutos iniciais, e ao término, você percebe que esses minutos foram tão bem colocados, tão bem explicados, que pouparam o que poderia ter sido uma encheção de linguiça enorme. A minha satisfação com Godzilla já começa daí.
Nesse reboot, tudo tem um motivo, um porque. É tudo muito encaixado, verossímil, fácil de acreditar, fácil de se apegar, de se sentir dentro do filme. Isso é, boa parte, devido a ótima atuação de Bryan Cranston, que introduz o filme, numa emocionante história familiar, que culmina aos extremos do enredo, e na história montada PARA os monstros (sim, no plural. Desculpem se estraguei essa).
Tudo que o Godzilla faz nesse filme satisfaz. São sequências espetaculares de efeitos especiais benfeitos, trilha sonora bem executada, cenas de ação na medida e duração certa... é tudo beirando a quase-excelência, não fosse alguns defeitos, como o desperdício de atuação de Bryan Cranston, onde o foco é, na verdade, o personagem de Aaron Taylor-Johnson, que está longe de construir uma boa performance nesse longa, mas que é irrelevante, sendo que outras coisas estão em jogo, e por mais que o filme foque no lado humano, e o monstro não apareça tanto, como disse, consegue ser maior que tudo.
É como aquele velho ditado, em que Godzilla se encaixa perfeitamente: "Menos, é mais".
Edwards construiu o tributo perfeito para os fãs do monstro, com inúmeras referências a desastres naturais, itens da cultura Japonesa, clima... ele conseguiu tocar na ferida daquela população tão devota, sem feri-la, e sim orgulhá-la.
Um filmaço. Colossal, assim como seu monstro.
