Os novos rumos de Nolan, além de agradarem, continuam o legado revolucionário do diretor em termos cinematográficos.
Se você já conhece algumas características do diretor Chistopher Nolan, sabe que são muitas. Agora, imagine a essência da história de três dos seus maiores filmes reunidas: As artimanhas do tempo que vemos em "Amnésia", o frenético ritmo que temos em "A Origem", e a tirania movida à tons crus da trilogia "Cavaleiro das Trevas". Juntas, todas essas qualificações de Nolan formam a obra mais audaciosa de sua carreira até hoje: Interestelar.Nolan mostra que a capacidade de criação de sua mente (que provou de uma vez por todas sua potência sob o comando do roteiro inegavelmente sólido de "A Origem"), vai muito além do que vimos em seus trabalhos anteriores. Baseando-se principalmente nas teorias do cientista Kip Thorne (que criou a ideia das já citadas, ondas gravitacionais, relatividade geral, e lapso temporal) o cineasta, tirando vantagens das ideias mirabolantes, mas perfeitamente críveis do cientista, conduz o que chega perto de ser sua obra-prima, adicionando novos temas ao seu catálogo de características, um deles sendo, principalmente, um drama familiar muito bem construído, e que está ramificado na história de Interestelar.
Isso é um dos pontos a serem relevados: o longa, mais do que um sci-fi ativo, frenético, com efeitos especiais de encher os olhos, é a busca de um pai pela salvação de, não só seus filhos, mas sua espécie, que está definhando num Planeta Terra distópico. A grande trama, embora não pareça, está centrada no epicentro mais profundo do amor de um pai pela filha. A primogênita de Cooper, personagem de Matthew McConaughey, protagonista da história, leva em seu nome, Murph, a maior filosofia do filme: a teoria da Lei de Murphy de que tudo que pode acontecer, irá acontecer.
Movido a esse testamento científico, Nolan monta o roteiro de Interestelar mexendo com os maiores extremos que uma mudança no tempo pode causar, resolvendo mostrar a importância de uma alteração dessa magnitude, e como isso pode afetar a humanidade, colocando personagens em situações extremamente cruéis e desesperadoras.
Mais do que paisagens espaciais e estrelares, o tempo é o grande protagonista de Interestelar. Nolan faz com que as teorias de Thorne tornem-se verossímeis em um nível assustador, quando eleva à infinita potência de relevância a perspectiva de tempo fora do mundo em que conhecemos, quando se está perdido em outros horizontes, em outras galáxias. O roteiro articula núcleos e mais núcleos, camadas e mais camadas e fecha tudo isso dentro de uma história de três horas de duração, que seduz o telespectador com uma envolvência que poucos filmes dessa duração conseguem.
Interestelar pode, facilmente, ser considerado um dos melhores filmes dos estúdios de Hollywood do ano. A volta de Nolan, depois de anos focando apenas nesta obra, foi muito bem aproveitada, e será bem recebida pelo público. Um dos maiores fatores do diretor, e que neste filme está felizmente elevado, é a sua capacidade de criar uma história extremamente complexa, e saber explicá-la em tela de modo eficaz, sem deixar o público perdido em meio às suas ideias, e infinitos plots twists da obra.
Mais um ótimo filme assinado por Nolan é inserido nessa geração, e merece ser vangloriado por muitas outras. Poucas obras foram tão fundo em um tema tão misterioso e discutido, e conseguiram mantê-lo interessante. Talvez não tão convincente a ponto de nos fazer acreditar que a realidade que nos aguarda no misterioso escuro do espaço sideral seja a retratada no filme, mas como história, funciona com a intensidade esperada. Palmas! Nolan continua invicto.
